quinta-feira, 6 de outubro de 2011



Ela me olhou, olhou de novo, enquanto eu escolhendo a maçã perfeita naquela quitanda-mercado, fiquei sem graça, troquei um sorriso tentando ser simpática, e voltei a apalpar maçãs e enfia-las na sacolinha, alguns pensamentos sobre o clima, sobre a torta, sobre o que acontecia ali me desligavam daquela senhora que insistia em me analisar(?) mas assim interrogando-me entre parenteses retribuí outro olhar, fui para a fila para pesar minhas cinco maçãs e ela veio em minha direção, "pode passar" eu disse e ela passou, cliente antiga do seu tião começou a trocar palavras e novidades, eu bem que me interessei e prestei atenção no seu jeito de falar, preta-velha de palavras enroladas, reparei em seu lenço amarrado na cabeça que escondia seus cabelos brancos que só apareciam por trás das orelhas, e ela sorria para o dono da quitanda que comentava a respeito do que ela falava, ela me olhou de novo, eu abaixei a cabeça ou olhei para o lado tentando disfarçar minha curiosidade que se fazia ali, tinha algo nela e muita vontade em mim de perguntar quem ela era, percebi que carregava um cachimbo no bolsinho da camisa, suas mãos calejadas, a falta de dentes, ela brincava com os sentimentos e falava do "véio" que tava em sua casa esperando o café torrar, e dizia que o amor é respeito agora, coisa que só fui entender depois de pensar sobre e sacar que ela quis dizer que o amor depois de um certo tempo vira respeito, amizade e que esse é o segredo, mas isso foi depois de muito tempo mesmo. "Ô fia, eu tô te estorvando né?" Assustei-me quando ela se dirigiu a mim perguntando, "não, não, tô tranquila" respondi, e penetrantemente ela lançou um olhar que revirou a minha alma, como se me fizesse esquecer do agora , do que eu estava fazendo ali, pra que comprar maçãs? E me levou embora pra longe dizendo que a partir dali eu ia entender o que significava a vida em sua completude, não me pergunte mais nada, só me lembro da fumaça de seu cachimbo e algumas palavras como mata, guia, sentir, saber, ser. Acordei com o coração aos pulos e uma paz interior inimaginável com vontade de gritar ao mundo como tudo é simples.

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